Dia 20 de Fevereiro é dia Mundial da Justiça Social. O mundo parece mais injusto?

“Desejar não mais que a justiça, até mesmo o gentios não fazem isso? Isso é ética. Você, no entanto, foi chamado pelo Deus vivo. (…) Ele quer que você arrisque amar e a nova existência que surge do amor verdadeiro”.

Esse trecho foi retirado de um livro de Romano Guardini, sacerdote alemão, chamado “O Senhor”. Ele fala de uma questão fundamental para os dias atuais, que é a justiça e como nós católicos deveríamos nos aproximar a ela. De fato, o dia mundial da Justiça social nos leva a olhar para o mundo e questionar muitas coisas. O que é a justiça? Como alcançá-la? Por que vemos tanta injustiça no mundo?

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Não são perguntas novas. Pelo contrário, desde os primeiros filósofos a pergunta sobre a natureza da justiça ocupou um lugar importante em suas reflexões. Platão, por exemplo, dedicou toda a sua obra “A República” para fundamentar porque é melhor ser justo que injusto. E no percurso da obra define a justiça como uma espécie de harmonia na alma, semelhante a harmonia de um estado justo.

No entanto, apesar de antigas, essas perguntas continuam muito pertinentes. É só procurar algum vídeo ou reportagem das manifestações que estamos tendo no país que o pedido de justiça está sempre presente, em qualquer que seja a posição dos manifestantes. Se todos querem justiça, porque parece ser tão difícil encontra-la e viver de forma justa. Paul Ricoeur, filósofo francês, diz que a vida boa poderia ser dita mais ou menos nos seguintes termos: “Viver a vida boa, com e para os outros, em instituições justas”. É simples de entender, mas muito difícil de ver em prática.

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Diante de toda essa problemática, Guardini se volta para o sermão da montanha e se pergunta como Jesus quer que vivamos tudo isso. E a resposta é que, em certo sentido, não devemos buscar a justiça. Calma! Isso não quer dizer que Jesus nos pede sermos injustos. Pelo contrário, o que o sacerdote está querendo nos dizer é que Jesus nos pede que miremos mais alto, no amor, para acertar o alvo da justiça. Como assim? Imagine um arqueiro que dispara suas flechas em um alvo. Ele nunca mira direto no alvo, mas um pouco mais acima e à direita ou esquerda, dependendo do vento. Assim, quando ele solta a flecha, ela faz sua trajetória até o alvo. Assim, “o homem é incapaz de justiça enquanto ele mira somente na justiça”, diz Guardini.

Em outras palavras, só conseguiremos ver a justiça presente no mundo se buscarmos viver o amor. Se estamos nessa tensão de amar, a justiça se realiza e se transcende. Não seria isso que Jesus quis dizer quando Ele disse que não veio revogar a Lei, mas dá-la pleno cumprimento? O que Ele quer não é uma legião de pessoas que sigam escrupulosamente uma série de regras, mas um povo que reconheça o Amor de Deus e que responda com amor também.

Talvez a razão para a falta de justiça que vemos no mundo não se resolva simplesmente com pedidos de mais e mais justiça. A verdadeira justiça social só vai aparecer quando encontrarmos motivos suficientes para amar aos nossos irmãos e irmãs. Amar, inclusive, os inimigos, porque se amamos somente os amigos, que méritos podemos nos colocar? Isso até mesmo os pagãos fazem, como nos diz Jesus.

Escrito por
Irmão João Antônio Johas (Redação A12.com)

Ir. João Antônio JohasLeigo consagrado do Sodalício de Vida Cristã. Estudante de filosofia em vistas do sacerdócio.

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